Entendendo a miopia: uma condição em ascensão
A miopia é um erro refrativo que dificulta a visualização de objetos à distância. De acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), estima-se que até 2050 metade da população mundial será míope. No Brasil, estudos do Ministério da Saúde indicam um aumento significativo do número de casos entre jovens em idade escolar.
Esse crescimento tem sido atribuído, principalmente, ao aumento do tempo em ambientes fechados, com menor exposição à luz natural, e ao uso prolongado de telas. Dados da Fiocruz apontam que crianças brasileiras passam, em média, mais de cinco horas por dia em frente a telas, número que cresce com a chegada da adolescência.

O elo entre telas e miopia
Fatores comportamentais e ambientais
Diversos estudos apontam para uma relação direta entre o tempo de exposição a telas e o aumento da miopia. O uso contínuo de celulares, tablets e computadores exige esforço visual de perto por longos períodos, o que pode levar ao alongamento do globo ocular — principal mecanismo por trás da miopia.
Além disso, atividades ao ar livre têm papel protetor comprovado contra o desenvolvimento da condição. A luz natural estimula a produção de dopamina na retina, um neurotransmissor que impede o crescimento exagerado do olho. Ou seja, quanto menos tempo ao ar livre, maior o risco de miopia.

Evidências científicas
Segundo a Revista Brasileira de Medicina, a pandemia de COVID-19 acelerou ainda mais esse cenário. Com o ensino remoto, crianças passaram mais tempo em frente às telas e menos tempo expostas à luz solar. Como consequência, hospitais universitários relataram um aumento notável nos diagnósticos de miopia durante e após o período pandêmico.
Diagnóstico precoce da miopia: um passo essencial
Identificar a miopia logo no início é essencial para controlar sua progressão. Crianças com queixas de dor de cabeça, dificuldade de enxergar o quadro ou que se aproximam demais dos objetos devem passar por avaliação oftalmológica.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) recomenda exames oftalmológicos periódicos desde os primeiros anos de vida. A detecção precoce pode permitir intervenções mais eficazes, como o uso de lentes corretivas, colírios de atropina em baixas doses ou lentes especiais que retardam o avanço da miopia.
Tratamentos modernos e controle da progressão da Miopia
Terapias com eficácia comprovada
Atualmente, uma das maiores preocupações dos especialistas não é apenas corrigir a miopia, mas controlar sua progressão. Entre os tratamentos mais eficazes estão:
- Colírios de atropina a 0,01%: recomendados pela SBEM para casos em crianças pequenas. Reduzem a progressão da miopia em até 60%.
- Lentes ortoceratológicas (ortho-k): moldam a córnea durante o sono e controlam o crescimento do olho.
- Lentes multifocais personalizadas: alternativas para crianças que ainda não se adaptam às lentes de contato.
Esses tratamentos precisam ser prescritos e acompanhados por oftalmologistas especializados, uma vez que cada paciente responde de forma diferente.
Avanços tecnológicos
A medicina tem investido fortemente no desenvolvimento de lentes inteligentes e wearables que monitoram o esforço ocular e avisam em caso de uso excessivo de telas. Embora essas tecnologias ainda estejam em fase de testes em larga escala no Brasil, já são vistas como promissoras por centros de pesquisa vinculados a hospitais universitários.
O papel da escola e da família
Os desafios da medicina moderna ultrapassam os consultórios. A prevenção da miopia envolve um esforço coletivo entre famílias, escolas e profissionais da saúde. As instituições de ensino devem incentivar atividades ao ar livre, pausas durante o uso de telas e adaptações ergonômicas nos ambientes de estudo.
Já em casa, é fundamental estabelecer limites claros para o uso de dispositivos eletrônicos e promover brincadeiras ao ar livre sempre que possível. Crianças que passam pelo menos duas horas diárias expostas à luz natural têm risco reduzido de desenvolver miopia, segundo o Ministério da Saúde.
A formação médica diante dos novos desafios
A faculdade de medicina tem papel crucial na preparação de profissionais aptos a lidar com os problemas emergentes da saúde pública. O aumento da miopia em jovens exige uma abordagem multidisciplinar, que envolva oftalmologistas, pediatras, educadores e especialistas em saúde coletiva.
Na graduação de medicina, é necessário abordar as mudanças nos padrões de comportamento social e tecnológico que impactam a saúde ocular infantil. Além disso, os estudantes devem estar preparados para atuar em programas de conscientização e prevenção nas escolas e comunidades.
Conclusão: enfrentando os desafios da medicina com informação e ação
A miopia em crianças e adolescentes é um dos grandes desafios da medicina contemporânea. Embora os avanços tecnológicos tragam benefícios inegáveis, também exigem responsabilidade e atenção redobrada à saúde visual dos mais jovens.
Com diagnóstico precoce, tratamentos modernos e a colaboração de escolas, famílias e profissionais, é possível não apenas controlar a progressão da miopia, mas também promover uma infância mais saudável. Cabe à medicina não apenas curar, mas também prevenir — e isso começa com educação, empatia e compromisso social.
A formação sólida oferecida por uma boa faculdade de medicina é o primeiro passo para formar profissionais atentos às mudanças do mundo e preparados para os desafios do presente e do futuro. O olhar atento ao cotidiano das crianças e aos sinais sutis da miopia pode ser o diferencial na prática médica.
A graduação de medicina tem, portanto, a responsabilidade de incluir temas atuais e urgentes em sua matriz curricular. Afinal, o enfrentamento dos desafios da medicina começa na formação de médicos comprometidos com a realidade do seu tempo.